Face Oculta’: Políticos na lista de ofertas mais caras
Namércio Cunha arrependido revela esquema de prendas
Namércio Cunha, ex-colaborador de Manuel Godinho, contou às autoridades do processo ‘Face Oculta’ a forma como eram dadas prendas a gestores de empresas públicas.
O gestor, que aceitou falar alegando estar arrependido, garante que a lista de ofertas era sempre submetida à aprovação de Godinho. A entrega era feita por estafetas das empresas do sucateiro e mais recentemente por Jorge Saramago, também arguido.
Alguns dos nomes indicados por Namércio para receberem prendas eram funcionários da REN e da Santa Casa da Misericórdia de Ovar, mas a maioria era sugerida por Godinho, disse Namércio.
Foi esse o caso de Ana Paula Vitorino, Armando Vara, Jorge Coelho e José Sócrates, que estavam no topo da lista das prendas mais caras, por determinação de Godinho.
O arrependido contou também que só em 2004 soube que algumas empresas de Godinho tinham problemas fiscais. Explicou ainda que Mário Pinho, chefe das Finanças de Ovar, trabalhou para a O2 enquanto esteve suspenso e que após ser readmitido continuou a usar o telemóvel e o automóvel da empresa do sucateiro.
Namércio Cunha afirma ainda que se apercebeu de que alguma informação que Paulo Penedos possuía vinha do pai, director da REN, e que foi por Jorge Saramago que soube da manipulação das cargas nos transportes da empresa.
DESVENDA PEQUENOS FAVORES QUE LEVAVAM A OBTER CONTRATOS
Namércio Cunha diz que deram um patrocínio de 5 mil euros ao director técnico da Portucel em Setúbal para participar numas corridas. Em final de 2008, a O2 viu ser adjudicada, pela Portucel, uma obra no valor de 600 mil euros. O caderno de encargos foi assinado pelo mesmo responsável pelo patrocínio. Também o filho do director de compras da CP recebeu mil euros para um carro que estava para abate mas que não valia mais de 300. Pequenos favores que, segundo Namércio, faziam com que Manuel Godinho obtivesse informações privilegiadas e mantivesse relações que eram fundamentais nas adjudicações de contratos. Namércio disse por fim que a Refer era um assunto-tabu no grupo Godinho.
COMUNICADO DA REN CORRIGE DATA DE PRÉMIO
A REN emitiu ontem um comunicado garantindo que "o último prémio recebido por José Penedos diz respeito ao exercício de 2008, tendo o correspondente valor sido pago em 6 de Maio de 2009, na sequência de deliberação da Comissão de Vencimentos de 26 de Março de 2009". A empresa diz ainda que "o prémio foi de 243 750 euros e foi divulgado pela REN no Relatório de Governo Societário". Acrescenta a REN que "quando o mesmo valor foi pago ao ex-secretário de Estado, já a IGF entregara no processo ‘Face Oculta’ o relatório preliminar na sequência da auditoria aos procedimentos da empresa pública. Com efeito, "o relatório preliminar da IGF é datado de 18 de Dezembro de 2009, ou seja, mais de sete meses depois de pago o último prémio". Acrescenta que "o Conselho de Administração não tem qualquer intervenção no processo de atribuição de prémios aos administradores, sendo a responsabilidade da Comissão de Vencimentos".
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